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Neurociência da Impermanência - Angústia?

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Marc-Olivier Jodoin - Unsplash.com (Royalty free)
Sente angústia com a ideia da impermanência? Com o fato que tudo de ruim … como também tudo de bom, inclusive a nossa existência e das pessoas que amamos, também é impermanente?
 
Reflitamos:
Como a ciência, e a fé, e praticas diárias de mindfulness (incluindo meditação) podem ajudar a termos mais entendimento e paz sobre esse assunto e sobre a vida.

1) No aspecto da nossa humanidade, a impermanência é uma realidade de onde não temos escapatória, e que permeia todas as áreas da existência humana. Percebemos isso desde as transformações no ambiente externo como as estações do ano, por exemplo, até através das mudanças constantes na vida: dos nossos relacionamentos que se formam e se desfazem, das nossas carreiras evoluem e se transformam, e dp nosso próprio corpo passa por um ciclo de nascimento, crescimento e morte.

Essa constante mutabilidade pode gerar angústia e incerteza sobre o futuro.

Mas não precisa ser assim.

2) No aspecto espiritual, a impermanência é reconhecida como uma lei fundamental do universo, uma lei Divina, em que nada é permanente. As tradições espirituais, de todas denominações religiosas, ensinam que tudo está em fluxo constante, e que agarrar-se a ideias de permanência é uma fonte de enorme sofrimento. A fe em algo maior do que a existência que conhecemos, nos ajuda a nos colocar em um contexto mais abrangente que transcende a ideia de finitude e portanto, ameniza o desespero, a angústia que isso nos causa ... levando o nosso olhar para uma outra dimensão em que a impermanência é positiva, e até necessária.

Aceitar a impermanência, por outro lado, pode levar a uma maior compreensão da natureza transitória da vida e uma apreciação mais profunda do momento presente.

3) No aspecto científico - A neurociência tem ajudado na compreensão maior das alterações cerebrais como resultado das mudanças da vida, mostrando que a impermanência é uma característica intrínseca do funcionamento do cérebro. Essas adaptações mentais ao longo da vida, transformam a consciência, o corpo físico e a percepção do meio ambiente, potencialmente tornando a pessoa mais apta a viver de acordo com suas escolhas, com uma vida mais abrangente.

Descobertas recentes mostram que nossas memórias, experiências, pensamentos e percepções moldam o nosso cérebro de uma forma que passam a ser parte da forma como tomamos decisões, agimos e vivemos. Um dos processos cerebrais que torna isso possível, chama-se neuroplasticidade. É um fenómeno complexo mas nos dá uma ideia do quanto podemos ser parte positiva da nossa própria impermanência se assim o escolhermos.

 

                                                       O que a neurociência então tem a nos dizer?

 

Ilustração de @riadbenamar123, pixabay.com 

 

 

A neurociência estuda o sistema nervoso (cérebro, medula espinhal e nervos periféricos) e suas funções, o que ajuda a entender a correlação desse sistema com a forma como as pessoas pensam e agem na vida.

A impermanência é um assunto indiretamente estudado na neurociência a partir do entendimento de como o cérebro humano lida com a constante mudança e transitoriedade da vida. O cérebro é um órgão altamente adaptável que evoluiu para processar informações em um ambiente em constante mutação. Pesquisas nesse campo buscam entender como as redes neurais (sinapses, células) respondem a estímulos novos (ou a falta de estímulo) e como isso molda a realidade das pessoas e consequentemente sua qualidade de vida. 

Uma área de pesquisa importante nesse campo da neurociência, envolve a neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro de se adaptar e se re-estruturar em resposta a novas experiências, estímulos e pensamentos.

Isso significa que as conexões entre os neurônios podem se fortalecer ou enfraquecer ao longo do tempo, o que é fundamental para aprender e adaptar-se a novas situações. A compreensão dessa capacidade cerebral nos ajuda a apreciar como nosso órgão cognitivo central está intrinsecamente ligado à impermanência, já que ele está constantemente se reestruturando para se adaptar a novas circunstâncias e isso inclui novos pensamentos, a forma como dirigimos a nossa mente para pensar.

 

Como lidar melhor com a ideia de impermanência?

 

-> Primeiro busque aprender (e entender) sobre o tema da impermanência do ponto de vista metafísico, espiritual e emocional. Busque sempre a ajuda de boas leituras, mentores, terapeutas, práticas espirituais, conselhos de pessoas a quem confia para que possa encontrar a paz com a mudança constante da vida no cotidiano em todas as esferas da existência. Isso é um exercício de entendimento que precisa ser praticado durante a vida toda pois a nossa consciência também esta em evolução, pois a pessoa que somos também está em estado constante de impermanência. 

O fim da negação interna e inconsciente da impermanência, a partir desses aprendizados, já vai trazer uma sensação de paz e diminuirá a sua angústia gradualmente. Esse processo, se consolida aos poucos com a fé, e não porque vamos compreender tudo, mas sim porque não precisaremos ter todas as respostas ...

 

Ao entender e confiar no processo da vida como um todo, nos damos permissão de lidar com nossas angústias sem resistência mas com um senso de que a vida é criativa, sempre se transforma e que nós podemos ser parte dessa transformação contínua, vendo o lado melhor de todas essa nuanças. 

 

-> Segundo: A meditação e práticas contemplativas, como o mindfulness**, também podem ajudar em muito no seu processo de entender e lidar com a impermanência. A neurociência tem ajudado a compreender essas práticas e o bem estar que provocam no cérebro (e consequentemente na vida das pessoas), sem rotulações de que sejam práticas esotéricas dissociada de benefícios para a saude mental e física.

Estudos mostram que essas práticas podem afetar a estrutura física e a função do cérebro, além da influência na liberação de neurotransmissores, especialmente a nível de córtex frontal, responsável por funções cognitivas (capacidade de discernimento, memória, entendimento etc) promovendo uma maior conscientização sobre a impermanência e como navegar a vida a partir disso.

 

A neurociência tem fornecido insights valiosos sobre como nosso cérebro lida com a impermanência e como podemos cultivar uma relação mais saudável e adaptativa com as mudanças em nossas vidas.

 

** Mindfulness é uma prática mental que envolve direcionar a atenção de maneira consciente e sem julgamento para o momento presente. Pode incluir ou nao, diferente formas de meditação. É uma forma de cultivar uma consciência plena do que está acontecendo em nossa mente, corpo e ao nosso redor no momento atual. Através do treinamento da mente, o mindfulness nos ajuda a reduzir o estresse, melhorar a concentração, promover o bem-estar emocional e desenvolver uma compreensão mais profunda de nós mesmos.

 

                                       Sugestão de Prática em Mindfulness

 

                                                     photo de Motoki Tonn - Unsplash.com (Royalty free) 

 

Diariamente pelo tempo que conseguir, pode ser por 5 minutos, escolha um lugar sem distrações e concentre-se mentalmente em algo específico como uma palavra positiva, uma paisagem.

Feche os olhos e os visualize, sem contar nenhuma ‘estória’ para si sobre esses elementos. Depois transfira sua atenção para sua respiração.

Repita essa prática pela manhã e `a noite, e durante o dia se sentir-se estressado ou precisar de calma para alguma decisão ou ação com mais consciência e discernimento.

Com o tempo, verá a diferença na qualidade de suas decisões. E melhores decisões, resultam em melhores ações e uma vida mais intencional, autêntica, com propósito e saudável (em todos os sentidos, desde o financeiro, ao social até saúde física, mental e emocional).

 

Portanto, entender e aprender a lidar com a ideia de impermanência, potencialmente pode nos levar a ter uma vida mais feliz, menos angustiante. E isso tudo está ao nosso alcance.

 

Dessa forma, nos tornamos parte ativa da transformação da vida, da impermanência das nossas existências e certamente com essa postura teremos mais paz, felicidade e sabedoria para viver uma vida criativa e abundante.

Vamos pensar nisso?